O álbum « Souvenirs des cités crépusculaires » de Henry-Skoff Torgue, essa obra instrumental de 1979, oferece uma ressonância particular para quem já contemplou o despertar noturno das metrópoles costeiras. Entre essas sinfonias urbanas ao crepúsculo, a de Fortaleza, capital majestosa do Nordeste brasileiro, merece uma análise aprofundada, pois encarna essa transição diária entre a luz opressiva e a escuridão libertadora.
Situada a poucos graus ao sul do Equador, Fortaleza apresenta essa verticalidade característica das metrópoles contemporâneas – uma linha do horizonte imponente onde se erguem edifícios de cinquenta andares, sentinelas de concreto e vidro diante da imensidão atlântica. Essa arquitetura, reflexo de uma modernidade brasileira por vezes brutal, insere-se em um ambiente climático de constância implacável: 30 a 32 graus, um calor que ritma a própria existência de seus habitantes.
A singularidade de Fortaleza reside precisamente nesse dualismo temporal imposto por seu clima equatorial. De junho a novembro, os alísios atlânticos oferecem uma respiração bem-vinda, mas é realmente o anoitecer, essa fronteira diária fixada invariavelmente às 17h30 pela proximidade do Equador, que marca a verdadeira renascença do espaço público.
Esse momento transitório – nem completamente dia, nem totalmente noite – constitui a própria essência dessa « cidade crepuscular » que Torgue evoca. A opressão térmica diurna, particularmente insuportável entre meio-dia e 17h30, dá lugar a uma temperatura finalmente amena, em torno de 28 graus. É o instante preciso em que Fortaleza revela sua autêntica identidade social e cultural.
A orla marítima transforma-se então em teatro de uma sociabilidade reencontrada. As famílias emergem de seus refúgios climatizados, as crianças tomam conta do espaço com suas bicicletas e patinetes, enquanto os vendedores ambulantes oferecem milho, açaí e bolinhos de camarão. Essa coreografia diária se inscreve em uma temporalidade extraordinariamente comprimida – mal uma hora entre os últimos raios solares e a escuridão completa.
Para captar a quintessência de Fortaleza, é preciso testemunhar esse espetáculo solar que, quase todas as noites, desdobra seus efeitos dramáticos, especialmente quando névoas e nuvens distantes se adornam com os últimos raios. A atmosfera torna-se então decididamente irreal entre 17h30 e 18h30, enquanto silhuetas continuam a se banhar contra a luz, desafiando o avanço inexorável da noite, às vezes envoltas no aroma de petricor.
Essa hora ambígua, em que o dia se apaga sem que a noite esteja plenamente instalada, constitui a quintessência poética de Fortaleza. É precisamente essa sucessão de instantes suspensos que forja essas « lembranças das cidades crepusculares » – testemunhos de uma beleza paradoxal nascida do confronto entre o urbanismo vertical contemporâneo e os ritmos milenares do cosmos.
O álbum Souvenirs des cités crépusculaires
O álbum « Souvenirs des cités crépusculaires » de Henry-Skoff Torgue é um álbum de música instrumental lançado em 1979. Foi gravado no Studio Du Hibou durante o verão de 1979 e distribuído pela Société Française de Productions Phonographiques (SFPP) em Paris.
O álbum « Souvenirs des cités crépusculaires » é composto por seis faixas:
- Les Alifères (5:51)
- La Cité Vide (9:14)
- Soliloque (4:07)
- Exode (3:50)
- Le Labyrinthe Ecarlate (5:44)
- Le Tartare (7:47).
Henry-Skoff Torgue é o compositor e toca teclados no álbum. A produção foi realizada por Gregory Baxendhal, Henry-Skoff Torgue e Yves Chauvet, com Gregory Baxendhal também responsável pela gravação e mixagem.
O álbum é descrito como pertencente aos gêneros eletrônico, minimal, avant-garde e experimental. Foi relançado em CD em 1991 pela Tempel e Spalax Music.
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